quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DITOS DE FEL


Não estamos acostumados a resolver as coisas. Antes, habituados a deixá-las como estão, ainda que apodreçam frente a impotência crônica de nossos olhos, somos drasticamente reduzidos a nossa mais profunda preguiça e miséria.


Mostre-me um "digno", e direi que tudo não passa de uma fantasia mal planejada. 


O amplamente legitimado autocentrismo, mal maior do século, é responsável pelo atual estado de desgraça e melancolia no qual nos afundamos mais e mais. Ninguém se interessa senão por seus próprios - e mesquinhos - assuntos.


Sabemos bem qual é a fome maior do propalado "novo século": para além das devastações causadas pela má distribuição de renda e recursos, o habitante dos grandes centros urbanos carece apenas de expressão e atenção. Sem "expressão" não há humanidade possível. Sem "atenção" - a si mesmo e ao outro - somos abandonados à própria sorte, como animais na savana. Ou, por outra, animais na savana ainda vislumbram possibilidades. Mas o que dizer de nós, seres perdidos entre nuvens de gases, horizontes ocultados por vastidões de concreto, destituídos de disponibilidade, compaixão, generosidade, amor e, não bastasse, já por demais apartados de nossa ancestralidade animal?


Não somos o que dizemos ser; apenas a pálida sombra do que escondemos, do que esquecemos. Apenas um acúmulo de esquecimentos, eis o que somos.


Nenhum de nós engana a nenhum de nós. Já não é mais possível enganar a ninguém em nenhuma circunstância. O excesso de virtualidades e o controle que exercemos através delas leva-nos a forjar nossa imagem, de modo a mostrar apenas o que gostaríamos que os outros vissem. Mas, ilusão das ilusões, a farsa dura pouco...