domingo, 2 de janeiro de 2011

fim do primeiro dia do primeiro ano da segunda década do vigésimo primeiro século d.c.

em um cine de cegos
seguimos a largos passos
em direção ao mundo pleno de apuro técnico
interfaces milagrosas
onde vida/saúde são a cada dia mais entronizadas
lazer/entretenimento acessível a todos
conforto comodidade
acesso facilitado a informações
bens de consumo
etc

vivemos este tempo
e a despeito de nosso indisfarçável desespero
estamos lúcidos
e ansiamos saber:
aí estão
múltiplos e complexos meios
para a manutenção da vida
ok
e a vida, onde está?
sentidos
corações
crenças revelações valorações
fé continuidade cultura?

talvez possamos - certamente não pela primeira vez - suspeitar:
o homem não está condenado a morte
está condenado a viver
uma vida cada segundo adiante mais esvaziada de sentidos
em quase todos os sentidos

e não é sumamente estranho/irônico que justo ao alcançarmos os meios para democratizar nosso bem mais valioso, tenha a vida se tornado a laminha rala, atroz/superficial destituída de qualquer vestígio de vibração/curiosidade, onde tudo acha-se pronto acabado definido convencionado, restando-nos somente dizer
sim-não
quero-não quero
me interessa-não me interessa?

isto sim é, para nós, a suprema brutalidade
a aviltar a possibilidade de vidas autênticas
movidas a verdades íntimas desejos legítimos
colocando em seu lugar infinitas/miseráveis
opções binárias
que em nada expressam
as almas de nossas necessidades

o reverso disso, para nós,
é liberdade:
afora esta penosa e espinhosa tarefa
conquistada apenas
as custas de sofrimento/sacrifício
resta-nos a eterna obscuridade

o verdadeiro pecado
é subtrair-se ao próprio destino
-ninguém escapa de si mesmo-

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