segunda-feira, 4 de julho de 2011

nem tão perdidos assim...

Ando achando que o melhor a fazer, por hora, é produzir. Produzir de qualquer maneira: ainda que sem dinheiro, sem apoio, sem público, sem resposta. O que naturalmente não significa que faremos qualquer coisa. Muito ao contrário: faremos o melhor precisamente por não estarmos comprometidos com editais, datas, patrocinadores, demandas artísticas, etc.
Muitos diriam: "Sem comprometimentos não se chega nem na esquina." Quem disse isso? Creio que produzir nessas condições, sem tantos comprometimentos profissionais, sem data de estreia, faz com que o único compromisso seja com o próprio trabalho, e com nada além disso. E isto, ao menos pra mim, tem sido um oásis de alívio e liberdade artística.
Acontece que estamos vivendo uma fase de mercado essencialmente utilitarista, triste, pobre, viciada, preguiçosa, preconceituosa. Só nos comprometemos com o que é certo, a contingência nos apavora. Não aceitamos trabalhar sem contrato (sem dinheiro nem pensar!), não nos dispomos a investir nosso tempo e energia criativa em algo que tenha o perfil de um investimento. Só encaramos a possibilidade de ganhar, e isto, por natureza, é um contra-senso! Quando se joga, seja em que circunstância for (de enormemente favorável a extremamente improvável), temos ainda, potencialmente, 50% a favor e 50% contra. O negócio é uma loteria: se você jogar, tem mínimas possibilidades; se não jogar, é impossível.
Não estou aqui levantando a bandeira do "eterno amadorismo-diletante", longe de mim esse negócio. Só o que pretendo dizer é que para entrar em algum lugar é preciso mostrar trabalho, mas não qualquer trabalho. É preciso muitos nãos - o que sem dúvida exige coragem e determinação, além de sólida certeza íntima e o aluguel devidamente quitado - para apenas um sim.
Pra mim, o único meio de não mostrar "qualquer trabalho", mas algo que derive de uma real necessidade artística, e que portanto possa resultar em alguma coisa original e honesta e, quiçá, ter algum valor artístico, é se trabalharmos em paz, sem pressões, sem tumultos, na mais profunda e imperturbável fé, sem pressa, sem ansiedade, sem impaciências, como também sem indolências. A impaciência e a preguiça estragam tudo.
Outra medida importante: trabalhar com uma equipe a mais reduzida possível e não comprar nada feito, fazer em casa. O que quer que haja por aí que já esteja pronto, recusamos. E por uma razão muito simples: somos capazes de fazer. Se irá resultar "melhor" ou "pior" é bem outra questão. O importante é saber que, neste caso, fumaremos nosso próprio charuto; pode não ser um "havana", mas é nosso.
Eis tudo.

4 comentários:

  1. Muito bom pai, é isso aí.
    Capazes todos nós somos, só nos cabe caminhar.
    GG

    ResponderExcluir
  2. mtoo bom! volta pro twitter pow, tá cheio fã seu lá..
    abrass

    ResponderExcluir
  3. Muita lucidez e simplicidade. Ser artista. Ser. Só. Muito bom, comandante!

    ResponderExcluir
  4. Putz, se for pra "roubar" esse também, pelo menos farei outro dia, rs... Adorei seu modo de expressar seus pensamentos... Certíssimo! O que fazemos é mais valioso por ser nosso, independente de ser realmente o melhor ou não. O que fazemos, tem que ser feito por nós. No sentido mais amplo, NÓS por completo, de corpo e alma. Produção é uma linda palavra, produzir é um verbo satisfatório (independente de ser algo no mundo artístico ou não). E a satisfação nem sempre vem de mãos dadas com o dinheiro... Na verdade muitas vezes, ele vem sem que estejamos com a intenção de conquistá-lo, mas com o desejo de simplesmente produzir.

    ResponderExcluir